“Se eu mudar essas indicações, posso fazer xyz com o produto A?” / “Se começarmos a esterilizar esse produto P dentro da fábrica, o que preciso fazer?” / “Se mudarmos o endereço desse centro de distribuição, o que preciso fazer primeiro?”

A lista segue indefinidamente.

E seguem indefinidamente alguns mitos de “infalibilidade regulatória” que assombram as horas de tantos profissionais como você e eu.

Toda uma classe de profissionais com perfis que são atraídos pela precisão, pela análise, pelo planejamento, pelos detalhes e se veem, com uma frequência desgastante, traídos por esses mesmos atributos da área.

Você já deve ter sentido isso, pois eu já senti.

Aquele momento estranho em que todos na sala esperam uma resposta absolutamente brilhante, irretocável, que atenda perfeitamente às necessidades de todas as parte interessadas, vinda de você, o especialista em assuntos regulatórios.

E claro, esperam que você diga exatamente o que eles querem ouvir.

Óbvio que algumas coisas são claras, a depender do quanto você já viveu nesse campo fascinante, mas também acontece muito a situação em que há vários “e ses” na sua cabeça, independentemente da sua experiência, pois existe uma falta de clareza natural de vários colegas sobre outras informações importantes das quais você precisará para definir sua resposta.

Esse texto poderia tratar das MIL MANEIRAS DE SAIR DESSA ENCRUZILHADA, mas a ideia aqui é falar sobre “os encruzilhados”, como você e eu.

No fundo no fundo, sou eu falando para você sobre a serenidade em abraçar limitações e cultivar intuições, ainda que tendo por base todo o conhecimento técnico possível.

Sou eu falando sobre o quanto aprendi a partir do momento que passei a conseguir comunicar para mim mesmo o que diz o célebre verso de Chico Buarque: “Nada é pra já”.

E, pelo bem de todos nós (talvez para muito além dos profissionais de AR, inclusive), essa noção precisa ser compreendida, abraçada e comunicada.

Muito já foi dito e muito ainda será a respeito de saúde mental no trabalho, sobre tratarmos as nossas feridas psíquicas e sobre a construção de culturas mais saudáveis em ambientes predatórios, mas esse é o outro limite do assunto e também não é para hoje.

Hoje, para abrir uma série de textos que eu espero que não acabe nunca, nós vamos remar até a terceira margem do rio, onde é possível falar à mente e ao coração de quem tem que fazer as coisas acontecerem no meio de todas as dificuldades e incompreensões regulatórias das companhias (e eu acho que você sabe quem é).

Respira.

Conta até 4 inspirando e até 4 expirando.

Fecha os olhos, solta os ombros.

Sorria.

O mundo segue do mesmo jeito, as pessoas com as mesmas expectativas e os problemas iguais. É preciso mudar a nós mesmos, para nos livrarmos dos pesos que não são nossos.

Essa culpa que você carrega não é sua. Assim como também não é seu esse medo de errar ou a paralisia que muitas vezes surge diante dele.

Coloca a mochila pesadona do lado e vamos (respirar, não esquece) e pensar juntos: não há horas de leitura e estudo suficientes na vida para lembrar de tudo de cara, para fazer todas as conexões de cabeça, para prever todos os cenários precisamente ou adivinhar o que o avaliador vai te perguntar sobre o produto.

Existe sim a experiência, que vemos ser traída cada vez mais rápido pelas inovações e avanços do “espírito da lei” (joga no Google :P) que os reguladores impõem aos regulados, à medida que se instruem sobre os detalhes técnicos do que a “letra da lei” já pedia há anos.

Existem os contatos, que vão te dar informações mais ou menos detalhadas sobre a vivência deles, sobre a visão deles, sobre os produtos deles diante dos reguladores. Isso pode te dar um feeling legal e te conseguir bons contatos e depois amigos no processo.

Mas essa hora do “pensa rápido” é sua, seja para brilhar, seja para errar.

O que eu venho advogar hoje nesse primeiro contato que você está tendo com o Bruno profissional, mas sempre muito humano, é que você erre rápido, como me dizia um super CEO com quem trabalhei.

Esse erro é fundamental para a sua paz de espírito, pois da dor que ele causa no ego é possível tirar muitas lições fundamentais para a carreira, para a vida, para tudo. E, pensa comigo, quanto mais erros acumular no processo, mais crescimento vem daí.

Então, por todos nós que estamos aqui e podemos ser usuários de um dispositivo médico qualquer amanhã: não deixe de estudar, de ligar os pontos, de ver vídeos, de ler livros velhos e de discutir sobre esse trabalho APAIXONANTE até na hora do café (tipo o que fazemos no Coffee Break Regulatório).

Eu aprendi muito nesse 1 ano de SQR (estou fazendo niver hoje) sobre confiar nos aspectos intuitivos dos conhecimentos que já acumulei e já apliquei, desde que o Marcelo me disse numa reunião: “cuidado com essa síndrome de impostor” (esse assunto é para outro texto).

Esse punhado de palavras de hoje são para te avisar para tomar esse cuidado também e para crescer nos erros, celebrar os acertos e não pensar nem 1 segundo quando a resposta for mesmo importante e você precisar de um tempo para organizar informações e pensamentos, ou mesmo precisar de mais detalhes de outras equipes.

Você não precisa saber tudo.

Nada é pra já.

Bjos nesses corações regulatórios!

Bruno Oliveira | Regulatory Client Manager – SQR Consulting

Atuo como Regulatory Client Manager na SQR Consulting e sou um apaixonado pela escrita.

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